Trabalho Infantil nas Olarias de Guarulhos

Em uma notícia da Folha Metropolitana do dia 29 de junho de 1976, a questão da infância e trabalho é noticiada com destaque na primeira página. “Massa de tijolo, suor da criança” é um dos destaques da edição daquela terça-feira.

Vamos fazer uma pesquisa contextualização sobre a Folha Metropolitana, que é um jornal de Guarulhos, mas na época tinha alcance regional. Era comum em suas páginas o noticiário do Grande ABC, por exemplo, além de editorias nacionais e internacionais. Longe, bem longe, do que é hoje.

O título da matéria na página 3 já tinha um caráter de denúncia. Começava assim, “A poucos metros das mais modernas indústrias do país, margeando a Via Dutra, subsistem ainda as formas de produção medieval representadas pelas olarias.” A reportagem, sem assinatura, se organizava apresentando a questão do valor pago às crianças que trabalhavam, à jornada de trabalho de quase 12 horas, além do destaque das condições das famílias envolvidas naquela produção.

Um dos casos relatados era o de Maria Antonia Resende, que trabalhava com o filho de catorze anos para suprir a internação do esposo que estava em Campos do Jordão. São destacadas as condições da família: “Enquanto Maria e Walter trabalham fazendo tijolos, ‘até dois milheiros a gente já fez por dia’, diz ela, os filhos pequenos ficam em volta. Todos têm aparência triste, marcada pela subnutrição(sic).” A situação sanitária se mistura às questões de trabalho. A tônica da reportagem denota a situação de fome e miséria, a ausência de uma rede de proteção social para essas famílias.

Folha Metropolitana comum materia sobre trabalho infantil em Guarulhos em 1976
Folha Metropolitana, 29/06/1976. Fonte: Arquivo Histórico Municipal Araci Borges.

Outro traço marcante da reportagem é a análise sobre a mudança do paradigma nas formas de produção, sendo as olarias paulatinamente substituídas pelas formas mais modernas e industrializadas. A questão do trabalho infantil também perpassa todo o texto revelando assim uma situação bastante comum no período que era o uso indiscriminado de mão de obra infantil, sendo a vida escolar apenas uma figuração na vida das crianças.

A localização exata da olaria escapa na reportagem, fazendo menção a região dos “lagos” em Guarulhos. Próximos ao bairro do Lavras, Bonsucesso e Água Azul são ainda observáveis esses lagos usados para extração de barro e produção de tijolos.

Ao fim, fica essa imagem da cidade lidando com suas contradições nos anos 1970. Nas franjas da principal rodovia da cidade, a arquitetura industrial imponente das empresas que marcaram a memória afetiva de parte da população. Olhando com mais acuidade, crianças pobres, apartadas da escola e da infância, moldando o barro para o tijolo.

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