Incêndio prova a falta de preservação em bens tombados

Em 01/05/2018, o Brasil acordou com a triste notícia do incêndio do Edifício Wilton Paes de Almeida, na região do Largo do Paissandu – SP, prédio este de vinte e quatro andares que entrou em colapso total e desabou na madrugada da referida data.

A edificação era ocupada por famílias pertencentes a um movimento social que tiveram que evacuar o local às pressas para salvar suas vidas, deixando para traz o pouco que possuíam e salvando assim o bem maior: a vida. Infelizmente nem todos tiveram esta possibilidade, sucumbindo junto ao edifício.

Além deste triste cenário, também pode ser catalogados vários outros prejuízos quanto ao referencial histórico do patrimônio que veio ao chão.

O Edifício Wilton Paes de Almeida fora projetado pelo arquiteto Roger Zmekrol e construído na década de 60, tendo por objetivo ser a sede do conglomerado de empresas de Sebastião Paes de Almeida, advogado, empresário e político da época. O edifício recebeu este nome em homenagem ao irmão mais velho de Sebastião. Entre as empresas que o edifício abrigou pode-se citar: a Companhia de Vitrais Brasil (CVB), Oleogazas, Socomin e duas agencias bancarias, o Nacional do Comércio de São Paulo S.A. e o Banco Mineiro do Oeste S.A. Já em posse da União, operou no local a sede da Polícia Federal (1980 – 2003) e uma agência do INSS. Com a saída destes órgãos públicos o prédio ficou abandonado sendo ocupado posteriormente por movimentos sociais.

Além deste histórico de usos do espaço, o edifício era um exemplar da arquitetura modernista com características particulares como a estrutura em concreto armado com pilares recuados sustentando lajes nervuradas em balanço com bordas cada vez mais finas e seção “H”, possibilitando assim a concentração de áreas de serviços, infraestruturas hidráulicas e a tubulação do ar condicionado no centro da edificação. Ainda compondo o diferencial do edifício, foi o primeiro a apresentar uma fachada inteiramente revestida por esquadrias de vidro (conhecida atualmente como pele de vidro). No térreo fora projeta uma escada circular com que era uma obra de arte funcional.

Por estas particularidades, o Edifício Wilton Paes de Almeida fora tombado pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) em 1992.

Este ocorrido mostra um dos principais problemas no pós-tombamento de um bem: a “morte” do próprio bem por falta de utilização sustentável.

Um dos principais problemas em relação à utilização sustentável do bem é a questão da propriedade e posse.

Quando é um bem privado, logo a responsabilidade para manter a edificação é do proprietário, porém quando é um bem público, aquilo que deveria ser mais simples de ser resolvido acaba deparando-se em diversas barreiras burocráticas e/ou políticas e o imóvel fica vazio e deteriorando-se, sendo subutilizados para fins marginais ou utilizados para fins não são indicado por questão estrutural ou vocacional.

Quando chega a esse estágio o bem muitas vezes está depreciado e sucateado, elevando muito mais o custo da recuperação da edificação tombada por meio de um projeto de restauração.

Em Guarulhos é possível encontrar alguns bens tombados ou com potencial para tombamento em total decadência. A Casa José Maurício é um destes exemplares abandonados.

Tombada pelo Decreto 21114 de 26 de Dezembro de 2000, a casa situada na Rua Sete de Setembro com arquitetura eclética e sistema construtivo de alvenaria em tijolo serve de exemplar para entender de como eram construídas as casas nas décadas de 30 e 40, possuindo características como piso de madeira, forro de estuque, porão com piso em tijoleira, caixilhos com vidros coloridos e portões e gradis em ferro entre outros detalhes.  Além de diversas características arquitetônicas relevantes, também está ligada a população regional pelas diversas lembranças e histórias sobre a casa o que é mais uma informação que demonstra a importância de edificação.

Hoje a casa pertence à Prefeitura de Guarulhos e está subutilizada pela vida noturna marginal da região. Infelizmente até o momento não existe uma definição da Prefeitura para o uso do espaço e fica nítido a pouca preocupação com o espaço.

Infelizmente é perceptível a falta de vontade do poder público em dar atenção para este assunto e a ação do tempo e das ações humanas depredatórias estão fazendo vários destas edificações sucumbirem.

Espaços tombados podem ser usados para diversos fins, inclusive para habitação, e isto só mudará quando estes espaços deixarem de ser encarados como pesos mortos destinados a equipamentos culturais e criar varias opções de utilizações e beneficiamento para os proprietários de edificações tombadas privadas.

Fica evidente que o tombamento de um bem não garante sua existência. Isso é apenas uma parte do processo e não tem uma significância efetiva se não for prevista uma sequência sustentável de ações para manutenção do bem.

Se isso não for entendido continuaremos assistindo vários outros edifícios tombados sucumbindo…

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