CABUÇU: A IGREJA, AS CARÊNCIAS E OS MORTOS

O bairro do Cabuçu (Faça um passeio virtual) é o terceiro bairro mais antigo de Guarulhos. Sempre foi um importante núcleo populacional, muito por conta da represa do Cabuçu, inaugurada em 1908 e pelas olarias, marcas do processo de industrialização da cidade.

A partir de 1920, pertenceu ao município de São Paulo. Depois não pertenceu a nenhuma cidade, voltando a ser incorporado ao município de Guarulhos na década de 1990. Apesar dos frequentes problemas de abastecimento e de infraestrutura, o bairro tem um histórico de participação popular bastante vigorosa que pode ser demonstrada pela intensa atividade cultural e política.

Muitos mistérios cercam os motivos do nome da Igreja do Bom Jesus da Cabeça. Desde a cura de uma dor de cabeça, ao aparecimento da cabeça de Jesus nos rios da região, as lendas são referendadas pela demonstração de fé dos fiéis que frequentam o Santuário. Erguida pelo escravo Raimundo Fortes em 1850, em homenagem a Dna. Joaquina Rendon Fortes, proprietária da fazenda que depois se tornaria bairro, a igreja foi reformada em 1922 e tombada como patrimônio histórico em 2000 por meio de intensa mobilização dos movimentos sociais e populares do local.

Cabuçu em 1968
Estrada do Cabuçu em 1968. Acervo: Arquivo Histórico Municipal – Araci Borges Martins.

Mas é na oralidade que tomamos contato com a dificuldade cotidiana dos primeiros moradores da região. O cenário de falta era completo: asfalto, transporte, escola, posto de saúde, comércios, etc., nas palavras dos mais antigos moradores, nada se tinha. Piorado durante os anos em que o bairro viveu seu hiato administrativo, tendo que se virar por conta própria.

Um exemplo das ausências pode ser exemplificado quando da morte de algum morador. Além da dor da perda, os próprios moradores carregavam os defuntos até o centro da cidade de Guarulhos para serem enterrados.

Relato sobre os mortos do Cabuçu

Na Folha Metropolitana de 2001 a história foi contada por um antigo morador, o senhor José de Freitas: “Naquele tempo era o seguinte: o defunto morria e lá a gente ia se revezando pela estrada fora. Tinha muitos homens que apesar de homens que não aguentavam a puxada e caíam no chão, deixando o corpo esparramado na estrada de barro. E quando acontecia isso o inspetor dispensava o cara mandava ele de volta para casa. Este não servia.”

A atividade não era remunerada e obrigatória, pois segundo o morador: “Quem se negasse a acompanhar o morto era cana na certa.” E é sobre a égide do desconsolo e da falta que o Cabuçu se ergueu, se construiu e se formou. Na memória de seus moradores que as identidades do bairro são refeitas assim, geração por geração.

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