História de Guarulhos: o século XX
A partir do século XX se projetou as primeiras tentativas de contar a história de Guarulhos (Faça um passeio virtual), principalmente no arco de celebrações do IV Centenário. Superando a falta de recursos, o evento procurou criar uma identidade para Guarulhos: bandeirante, jesuíta e colonial.
Ao reconstruir de certa forma o passado e assim conformar elementos para uma identidade guarulhense, se optou por eternizar monumentos e uma memória oficial: foi feita a praça, inaugurada a escultura, realizada a grande obra e contada a grande história, ou o livro “Guarulhos: a Cidade Símbolo”
Outro ponto relevante da história de Guarulhos é, no meu entendimento, a demasiada importância dada à imigração (europeia, árabe e oriental), em detrimento a força migratória interna. Esta última que define a cara da cidade que temos hoje. As famílias antigas da cidade detiveram a hegemonia política e cultural da cidade. A criação do IV Centenário foi um dos acontecimentos que retratam o papel destes grupos, assim como a presença maciça de logradouros na cidade.
Com o crescimento urbano e populacional, a expansão industrial globalizada, entra em cena a necessidade de redefinir marcos de uma cidade que não se encontrava preparada para tal.
Entre as décadas de 1970 e 1990, há uma similaridade entre os robustos números de crescimento populacional e problemas urbanos, como habitação, saneamento básico, educação e infraestrutura de transportes. Isto é a demonstração cabal de uma cidade atrás de resolver e solucionar problemas de sua morada custe o que custar.
Concomitante, questões institucionais e a fragilização política-administrativa da cidade ainda levaram os grupos que sempre detiveram o poder a se reacomodarem de maneira a construir uma hegemonia que não seja a custo do braço. A história política da cidade, longe de ser uma sucessão de rostos que comandam a nau municipal, ainda precisa ser revelada.
Sobre aqueles sujeitos, anônimos que chegam a cidade de Guarulhos na busca de uma nova vida, ainda não houve um processo de escuta ou de afirmação. Eles trazem a marca de sujeitos hifenizados, pois sua origem identitária se encontra em outro local. Trazido para Guarulhos, essa identidade se mimetiza no espaço urbano, delimitado pelas necessidades contemporâneas e a mercê dos conhecidos estereótipos do nosso ser paulista. Não devemos mais encontrar o Guarulhense, mas vários guarulhenses hifenizados: o mineiro, o baiano, o pernambucano. Cada um com memórias e histórias diferentes.
Tais memórias ainda não encontraram vazão ou referências nesta cidade. Criam maneira de existir, mas ainda não são entendidas ou vistas no processo permanente de construção de Guarulhos. Suas histórias ainda estão para serem contadas. E é a participação política que deve levar a afirmação desse sujeito.
É urgente rever o processo de desenvolvimento urbano e criar limites a verticalização; construir alternativas a ocupação desordenada e vetar a criação de espaços mortos que chamamos de estacionamento. Em conjunto, maior participação política e democratização dos espaços de decisão.
O cântico do desenvolvimento econômico não suporta mais uma mesma nota. A cidade se exaure em opções que não discutimos. Isto não é em nome do passado, mas uma necessidade para o futuro.