Getúlio Vargas e Guarulhos

Imagina que de repente uma rua chamada X, vire Y, se torne Z e depois volte a se chamar X. Isto em apenas poucos anos. Foi o que aconteceu em algumas ruas de Guarulhos num curto período.

Ao realizar uma busca no dicionário de ruas em São Paulo (www.dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br), encontramos o sobrenome Vargas em várias vias da cidade. Do ex-presidente Getúlio Vargas uma via de Perus (recente), outra em Guaianazes e uma passarela na Bela Vista.

A repulsa à figura de Getúlio é histórica nessas bandas de cá. Devido à ação da elite local, mas também devido ao Movimento Constitucionalista de 1932. Na mesma cidade existem várias referências a esta passagem da história: Rua MMDC, Avenida 9 de Julho, Praças, Monumentos, etc.

Os paulistas homenageiam mais bandeirantes – o orgulho paulista, responsáveis pela descoberta do ouro, pela entrada no interior e pelo apresamento e massacre de nativos – do que, o líder da revolução de 1930 que desgraçou a política café-com-leite. Não se nomeia ruas por acaso.

Guarulhos é uma das exceções a regras. Além de possuir uma praça (Faça um passeio virtual) que vigora ainda hoje na cidade, outras referências ainda são remanescentes. Tudo isso, devido às idas e vindas da elite local na década de 1930, como veremos a seguir.

Praça Getúlio Vargas
Paço Municipal na década de 1960, depois o local se tornaria apenas a Câmara Municipal. Praça Getúlio Vargas. Fonte: Arquivo Histórico Municipal Araci Borges.

Ao assumir, o prefeito Delezino de Almeida Franco, membro do Partido Democrático Paulista, em um dos primeiros atos, além de expulsar da administração todos os políticos ligados ao Partido Republicano Paulista, resolve nomear algumas ruas em homenagem aos revolucionários de outubro de 1930: Getúlio Vargas, Miguel Costa, Izidoro Dias Lopes, José Adriano Marrey Júnior e João Alberto.

Com a permanência de Vargas em um governo não tão provisório, o estado de São Paulo se mobilizou contra o poder federal. Com a mudança da situação política, em poucos meses o Partido Democrático funde-se ao Partido Republicano Paulista, se tornando antigetulista.

Em Guarulhos, novos ventos direcionam a política, e em abril de 1931, é nomeado o Major Ariovaldo Panadés. Em julho do mesmo ano, respondendo às tensões antigetulistas que já contaminavam a cidade, o prefeito destituíra os logradouros anteriores, homenageando exemplos do “sangue” paulista: Oswaldo Cruz, Teodoro Baima e Ramos de Azevedo, além de outros.

No ano seguinte, a primeira legislação de ruas de Guarulhos reafirma os nomes do Movimento de 1932 e acrescentam ainda outros exemplos do orgulho “paulista” como Cesário Motta, Campos Sales, Barão de Mauá, Força Pública e Senador Vergueiro.

Em 1937, já sob o Estado Novo e com os ânimos pacificados a cidade manteria algumas referências a Vargas e retomaria as anteriores, como por exemplo, a Rua Padre Celestino que havia mudado de nome duas vezes, voltando ao nome anterior a 1930.

Ainda na década de 1940 não é raro ver, em fotos antigas, o carinho de moradores da cidade com Getúlio Vargas. São recepções, festas, desfiles, em homenagem ao ditador do momento. 

Em 1957, após a desapropriação do campo do Esporte Clube Paulista, era inaugurada a Praça Getúlio Vargas com sistema de iluminação e com fonte luminosa. Apenas em 1958 foi finalizado todo o projeto com o novo Paço Municipal.

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