Arquitetura industrial em Guarulhos
A arquitetura industrial refere-se ao design e planejamento de edifícios e espaços destinados a atividades industriais, como fabricação, produção e armazenamento de bens. Este campo da arquitetura abrange uma ampla gama de estruturas, desde fábricas e instalações de produção até armazéns e centros de distribuição.
A tipologia se originou na Europa e se disseminou pelo Brasil no início do século XX. Traz como aspectos marcantes: a funcionalidade voltada essencialmente para a produção e o trabalho, os espaços flexíveis com uma planta retangular e volumetria maior na horizontal e as marcantes chaminés em tijolos. Muitas fábricas no Brasil assumiram feições parecidas, com pequenas variações conforme a necessidade produtiva.
O interesse na preservação ganhou vulto nas últimas décadas em São Paulo, associado principalmente ao entorno das ferrovias paulistas, outro importante objeto de preocupação e interesse de preservação. No CONDEPHAAT o processo de tombamento do prédio da Avenida IV Centenário com a Rua Pedro de Toledo (Ibirapuera), onde funcionava a Indústria de Cera Parquetina, além dos processos em torno da Indústria Matarazzo (Barra Funda, Bom Retiro, etc.) nos anos de 1980 são os primeiros esboço de olhar para esse importante patrimônio cultural.
Em Guarulhos, temos a Antiga Fábrica de Casimiras Adamastor com a sua marcante chaminé e principal representante dessa arquitetura, já protegida. No eixo da Rodovia Presidente Dutra, uma antiga chácara foi vendida, em 1941, à Cerâmica Brasil que, nesse meio tempo em 1946, revende à tecelagem que se transferiu de São Paulo. Em 1948, a fim de superar a grande escassez de matéria prima no pós-guerra, foi instalada em Guarulhos uma fiação completa, de maquinaria moderna a Casimiras Adamastor. A alta classe dos fios ali produzidos permitiu a Adamastor libertar-se da importação, então assim continuando a produzir seus tecidos de alta qualidade que os tornou famosos em todo o país. Desapropriada em 11/04/2001, a partir de dezembro de 2003, então passa a abrigar o Centro Educacional Adamastor.
Uma visão desse interesse sobre a arquitetura industrial pode ser lida no TICCIH (Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial) de 2003.
“O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.
A arqueologia industrial é um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, os documentos, os artefatos, a estratigrafia e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou por processos industriais. A arqueologia industrial utiliza os métodos de investigação mais adequados para aumentar a compreensão do passado e do presente industrial”
Em Guarulhos temos alguns exemplares desta arquitetura podem ser vistas ao longo da Rodovia Presidente Dutra. São inúmeros prédios, com desenhos diferentes, mas que correspondem a essa tipologia fundamental na constituição da nossa identidade. Apesar das ameaças permanentes a esses edifícios, até devido as condicionantes do capital e do mercado imobiliários, tais prédios são referências de nossa memória e deviam ser mais protegidos. Até mesmo quando abandonados, como o caso do Matadouro Mercantoni no Macedo, esses prédios reúnem atributos arquitetônicos relevantes que podem ser valorizados.
A realização da Bienal de Guarulhos de 2024 no antigo edifício da Phillips no Jardim Munhoz será ocasião importante de se aproximar da memória trazida por esses edifícios.