Dr. Lauro de Souza Lima: um pai para os hansenianos
Alguns fatos me levaram a escrever este texto como o artigo do Thiago Guerra sobre o não reconhecimento do Dr. Lauro de Souza Lima, a Copa do Mundo no Brasil, a exposição “Futebolando a História” e o meu grande interesse pela história do Complexo Hospitalar Padre Bento (antigo Sanatório Padre Bento).
O estádio, escondido atrás do hospital, ao lado de uma ruazinha de paralelepípedos, em frente ao teatro, é um dos patrimônios históricos tombados pelo Condephaat em nosso município.
Com seu portal imponente na sua simplicidade e uma arquibancada de madeira no estilo inglês do início do século 1920, é o local de encontro de diversos campeonatos dos times de várzea. Quem passa por lá aos domingos se depara com uma grande movimentação – expectadores, muitos jogadores, aquele burburinho e alegria que os jogos de futebol de várzea causam na vida das periferias das cidades.
Em seu início era apenas um dos locais de entretenimento dos internos do Sanatório Padre Bento (contava com outros espaços como o Cine Teatro, igreja, escola, e a famosa “Pérgola dos Namorados”), que tinham sua internação compulsória determinada por uma lei federal, lei essa posta em prática com muita eficiência no Estado de São Paulo.
O Dr. Lauro em uma matéria da Folha da Manhã publicada em 22/01/1949 faz um pronunciamento preocupado com a exclusão de seus pacientes. “Os pacientes só são devolvidos ao convívio social, quando longamente provada a sua cura. A sociedade prestaria, pois, grande benefício se confiasse na eficiência do tratamento e, consequentemente, aceitasse com maior compreensão os egressos dos Sanatórios.”
Apesar dessa lei de internação compulsória e do tratamento doloroso e desumano dados aos pacientes, havia um médico que é reconhecido pelos ex-internos como “pai”, médico esse que praticamente morava no sanatório. Responsável por introduzir no Brasil um novo tratamento que proporcionou o início de uma nova etapa para os pacientes. Apesar das opiniões conflitantes sobre o tratamento ainda com muitos preconceitos, devemos sim uma justa homenagem, em nome dos pacientes que receberem seus cuidados, e aqueles que hoje não são privados de uma vida em sociedade.
O Dr. Lauro de Souza Lima, que era diretor do departamento de profilaxia da lepra do Estado de São Paulo e consultor científico da ONU, viveu entre 1903 e 1973. Para os internos do Sanatório Padre Bento, o médico referência no tratamento da lepra, era simplesmente como um pai. O campo de futebol batizado com o nome do doutor preserva a memória de quem trouxe alivio ao sofrimento dos internos daquele local.