Demolição expõe os problemas do patrimônio histórico
A AAPAH surgiu em 2009, quando se iniciou todo o processo de abertura de CNPJ e todas as outras documentações, já tínhamos foco em alguns patrimônios que estavam abandonados na época, porém a discussão sobre o patrimônio cultural e o abandono não começou naquele ano. Já apontávamos os riscos, a falta de seriedade na fiscalização dos prédios tombados. Depois de anos de discussões e apontamentos, todo o problema veio à tona em uma semana.
Em 06/11/2015, membros do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico recebem a denúncia de uma demolição no entorno histórico de Bonsucesso. Quando os conselheiros abordaram o proprietário sobre a demolição irregular, foi apresentado o alvará expedido pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano. O órgão governamental não respeitou o rito, a solicitação de qualquer alteração em região aonde há bens tombados deve ser apresentado ao Conselho.
O proprietário, que se diga por passagem não é um leigo, declarou que aceita recomendações para fachada da nova construção, também disse ser um amante da história. Assim, deveria ter solicitado as recomendações antes de levar ao chão mais um patrimônio cultural.
Quando os amigos do patrimônio achavam que já tinham muitos problemas para apenas uma semana. No dia 11/11/2015, os sites de notícias de Guarulhos publicavam sobre o óbito do morador de rua chamado José Domingos dos Santos, morto aos 50 anos de idade. O corpo foi encontrado dentro do Casarão do ex-prefeito José Maurício.
O casarão sempre esteve no rol de cobranças que a AAPAH faz para a prefeitura, já foi organizada manifestação na rua, solicitamos urgência com a manutenção em Conferência Municipal. Nas reuniões do Conselho de Patrimônio alertamos para o perigo de incêndio, pois já encontramos marcas de fogueiras no interior da casa. Mas, para confirmar todas as nossas preocupações, aconteceu o pior, a morte de uma pessoa.
O acontecimento confirma o abandono total da casa, a falta de zelo do governo municipal com o patrimônio histórico.
Os dois fatos se cruzam com a declaração dada pelo prefeito Sebastião Almeida, o governante afirmou na reportagem do Guarulhos Web em 12/11/2015, que não se sabe quando o Casarão da rua Sete de Setembro será restaurado e diz que um projeto está sendo trabalhado. Porém, o projeto está pronto, há um processo iniciado para começar a licitação para o restauro. Fica a dúvida se o político desconhece o que se passa em suas secretarias ou todo esse projeto não passa de uma estratégia para acalmar os grupos que lutam em prol dos bens históricos. A resposta virá na próxima audiência orçamentária da Secretaria de Educação para o ano de 2016. A semana que escancarou o descaso com a história de Guarulhos deixa uma lição para toda a sociedade guarulhense. A causa de conservação do patrimônio cultural envolve segurança, turismo, bem estar social, respeito ao ser humano, cidadania. O governo municipal, que não se diferencia tanto para o bem, quanto para o mal da política praticada no Brasil, perdeu a oportunidade de fazer sua obrigação de cumprir com a lei para se despachar um alvará e teimou em não colocar a guarda civil para evitar que uma morte acontecesse dentro de uma casa tombada.