Água Azul: lendas, floresta e a “disneylândia”

Sobre o nome do bairro Água Azul, os moradores mais antigos contam que teve origem devido a existência de uma lagoa com água muito clara e azulada. Esta lagoa foi feita nos anos quarenta por uma empresa com a intenção de extrair areia. Com o abandono do local, os lençóis freáticos formaram a lagoa que iria batizar o bairro.

            A localidade do Água Azul é cercada pelos bairros do São João, Tapera Grande, Lavras e Bonsucesso, territórios que possuem as mais relevantes reminiscências do passado colonial Guarulhense

            O bairro se formou em meio às minas de água, córregos e cachoeiras, sendo a base do desenvolvimento local.

            Há ainda relatos esparsos sobre a atividade mineradora do local, que teria levado a exploração de ouro e a expulsão de famílias que moravam no local, assim como a presença de escravos na abertura da estrada de Nazaré.

            Duas famílias foram responsáveis pelo povoamento. A família Luftalla, responsável pelo loteamento, e uma família de japoneses que desenvolveu algumas culturas hortaliças, a partir da década de 1970.

             As olarias de Guarulhos que produziram tijolos e telhas não só para a cidade, mas também para a capital paulista, tiveram sua contribuição para o desenvolvimento da região. No Água Azul ainda era possível encontrar os fornos mais preservados do Município. Em 1960, Guarulhos chegou a ter 260 olarias e cerca de 520 fornos para queima de tijolos.

            Por conta da característica bucólica e rural do bairro, existem famosas lendas rurais no local como a Noiva do Capelinha, a jiboia de sete metros que protege a nascente do Ribeirão Tomé Gonçalves e o Lobisomem do Água Azul

Outro episódio que é quase uma lenda e aconteceu no bairro foi a construção do primeiro parque temático no Brasil. A obra pensada por José Vasconcelos, um dos maiores humoristas do Brasil nas décadas de 1960 e 1970, trazia o curioso nome de “Vasconcelândia Empreendimentos Turísticos S/A”. O parque teria hotel, restaurante, lagos e ilhas artificiais, brinquedos e representações das cidades brasileiras. Um trenzinho iria levar o visitante a cada cenário, propiciando uma experiência imersiva. A inspiração vinha da Disney e de outros parques dos Estados Unidos, que Vasconcelos tinha visitado quatro anos antes.

O empreendedor tentou capitalizar por meio de ações na bolsa de valores e a venda de títulos societários, na medida em que realizava obras como na imagem a seguir:

Vasconcelândia. Ano 1974., Acervo: Arquivo Histórico Municipal de Guarulhos.

As dificuldades financeiras se intensificavam e José Vasconcellos tentou apoio de investidores estrangeiros. A ausência de infraestrutura local inviabilizou a obra. Nos anos de 1980 o terreno foi arrendado para saldar as dívidas e posteriormente vendido para o governo federal. As ruínas ainda podem ser vistas como indica a reportagem  “Hoje só as saúvas frequentam a 1ª ‘Disneylândia brasileira’, em Guarulhos” (ver em https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2022/03/27/hoje-so-as-sauvas-frequentam-a-primeira-disneylandia-brasileira.htm).

Mirante do Nhangussu. ANO: 2023. Acervo: AAPAH/Vanessa Freitas Vicente,

Por fim, com 991 metros de altitude em relação ao nível mar e composta por uma riqueza de rochas como metabasaltos, xistos e mármores, o mirante do Nhangussu é um dos lugares mais incríveis da cidade. Está na divisa entre as bacias dos rios Paraíbas do Sul e Tietê e sua imponente escarpa montanhosa e rochosa, pode ser avistada de outros pontos da cidade. Tem o mais belo pôr do sol de Guarulhos e a sua vista panorâmica permite visualizar desde a região de São Paulo, além das serras como Itaberaba, Pirucaia, Bananal e, mais ao longe, a do Itapeti, localizada no Município de Mogi das Cruzes. É um dos bens recentemente tombados pela municipalidade no ano de 2022.

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