Praça oito de dezembro: lembranças do Taboão
O passado é uma construção social situada na confluência de inúmeros tipos de registros documentais e de lembranças particulares e coletivas; em outras palavras, podemos afirmar que o passado resulta de memórias e da escrita da História.
A história é uma forma de conhecimento que possibilita à sociedade se aproximar de seu passado e saber mais sobre si mesma. Este processo é contínuo, multifacetado, e faz parte da própria dinâmica social. O texto de hoje é apenas uma forma de relembrar a história de um dos muitos bairros de nossa cidade.
O bairro do Taboão nasceu com a vocação de homenagear a cidade de Guarulhos, costumam dizer que o bairro é um exemplo claro da mescla de identidades. A região se desenvolveu ao redor da Praça Oito de Dezembro, local conhecido por suas várias casas comerciais, e por suas avenidas, a famosa Otávio Braga de Mesquita, a Silvestre Pires de Freitas e a rua Jamil João Zarif, que liga a região ao Aeroporto.
Outrora um lugar tranquilo com poucas casas, pequenos sítios e transporte acanhado; A praça era um lago, cheio de taboas, plantas aquáticas, dizem os moradores antigos que por este motivo o bairro foi batizado com o nome de Taboão. No final da década de 50 a Avenida Otávio Braga de Mesquita não era asfaltada, neste trecho foi construído o Grupo escolar do Taboão, que foi a única escola no bairro por muito tempo.
O pluralismo cultural concentrado na Oito de Dezembro grita aos olhos dos transeuntes, nas calçadas uma gama de produtos a venda, é lá que você pode ouvir muitos sotaques, no entanto o destaque é para os dialetos que vão do Norte ao Nordeste e não é a toa, pois foi de lá que anos atrás muitos migrantes vieram e ocuparam o bairro, a construção do aeroporto reforçou a chegada desses homens e mulheres que sonhavam com uma vida melhor.
Era no Taboão que se realizava uma festa nordestina promovida pela prefeitura, que oficialmente não existe mais, porém a Praça Oito é festa pura, não acredita no que falo? Pois vá visitá-la! Há também comércio irregular, muitos camelôs se distribuem pelas calçadas gritando jargões para vender suas peças coloridas. A feira do rolo migrou para lá, falem o que quiser, mas é lá que permanece a essência do escambo guarulhense. A antiga granja do bairro é hoje um cemitério, os antigos prédios comerciais foram demolidos há pouco e cederam lugar a supermercados, transportadoras, indústrias. O bairro se expandiu, a região foi ocupada, surgiram edifícios, o grupo escolar não é mais único, ficou pequenino e foi engolido pelo trânsito intenso da avenida, esqueceram-se da pequena capela símbolo do sincretismo, permanece viva na memória a Paróquia Santa Cruz construída posteriormente, e símbolo mor da região. Das construções do antigo bairro pouco resistiu ao progresso desenfreado, este que engole pouco a pouco os edifícios do passado.
O acesso ao passado é hoje um direito de cidadania cujo exercício, assim como o dos demais direitos, depende de uma complexa rede de possibilidades, na qual se inclui o acesso às decisões de interesse social, a divulgação do conhecimento sobre o passado e o crescimento da autoestima dos segmentos sociais e/ou étnicos que constroem o presente. Da complexa escolha de múltiplos fatores, muitas vezes díspares, resulta a possibilidade das edificações permanecerem como suportes de memória – esta faculdade do presente, que nele conserva o passado e o faz aderir a nós − ou do apagamento, este, o oposto da conservação e do direito ao passado.